sábado, dezembro 12, 2009

Não sou mais uma colegial...



Que frase enigmática! Por outro lado é uma frase descarada, aberta, ameaçadora e destruidora. Os rompimentos com a moral comum e cotidiana acontecem a todo momento, isso não é mais novidade. Agora será que é válido e realmente um avanço esse tipo de comportamento? Depois que li a Alma Imoral, de Nilton Bonder, não consigo ver mais as traições como algo traiçoeiro. Ainda assim concordo que o potencial destruidor, para o bem ou para o mal, é inerente a esse tipo de ruptura.

Mas afinal do que estamos falando??? A frase em questão envolve conceitos de intimidade, respeito, tato, conquista, sedução, dominação e controle, só para citar alguns exemplos. É algo realmente poderoso, e por isso mesmo me chamou a atenção. Lá estava uma mulher em uma conversa íntima com seu parceiro, quando surge a enigmática colocação.

Todo relacionamento saudável é baseado em respeito e um mínimo de confiança. Esses relacionamentos passam a ser íntimos quando o grau de troca entre as pessoas começa a envolver questões de ordem mais pessoal e de acesso restrito. É a tal da intimidade. Esse tipo de relacionamento envolve além do respeito e confiança, a intimidade. Voltando à nossa frase, percebemos que esse tipo de questionamento somente se dará em momentos íntimos, e em relacionamentos íntimos.

Como vimos anteriormente, os relacionamentos envolvem níveis graduais de troca. Eles começam superficiais - quando não conhecemos ainda como o outro é, o que pensa e como age - e evoluem, caso haja interesse mútuo, para níveis profundos. O grande susto acontece quando evoluímos para essa conversa profunda e o outro nos surpreende dizendo que o aprofundamento não está num ritmo adequado. No caso da frase, está lento demais. Talvez o oposto disso seria dizer que "Você está indo longe demais.". Se estamos num relacionamento saudável é normal que haja aumento do envolvimento de forma gradual. Quando a mulher em questão diz que não é mais uma colegial, diz que já passou por essa fase, e consequentemente, não precisa mais desses rituais de iniciação. Por uma lado temos uma falta de paciência com o outro, mas por outro lado é uma sincronização de passos.

A primeira impressão ao ouvir essa frase poderia ser boa. Ela diz que está pronta para ir mais rápido, e aumentar consideravelmente o grau de intimidade. Analisando um pouco mais o desejo por trás da frase, percebemos que o dizer também implica em perder parte do aprofundamento sutil entre o casal, além de sugerir um potencial de efemeridade no relacionamento. Quando as etapas são queimadas, a chance do desaparecimento do sentimento recíproco de apreciação mútua é muito maior.

Não podemos deixar de lado também o jogo pelo poder, controle e dominação, que quando executado pelas mulheres adquire uma certa crueldade exacerbada. Ao dizer que não é mais uma colegial, diz também ao seu parceiro que o mesmo está tratando ela como uma adolescente. Ou ainda que o parceiro se porta como um adolescente e a parceira é uma mulher adulta. Ocorre uma destruição imediata do poder masculino em prol da nova posição feminina de subjulgamento.

Essa frase tem um poder muito mais forte e abrangente do que podemos analisar inicialmente. É uma provocação que exige uma mudança de postura e atitude, que geralmente acaba na destruição do relacionamento pela queima de etapas de aproximação e muito provavelmente pela diferença de própositos que levaram ao encontro e aprofundamento da relação.

Na sociedade atual extremamente consumista e que procura satisfação imediata dos desejos, os relacionamentos que se constroem com o tempo são coisas do passado. Parece que isso é proporcional ao número de separações e términos de relacionamentos. Quanto mais rápido queremos chegar ao paraíso, mais rapidamente se dá a queda.