quarta-feira, abril 08, 2009

15 Anos sem Nirvana

Já faz tempo que o rock não mostra nada de tão revolucionário. O último expoente que levantou a bandeira da revolução foi Kurt Cobain e o Nirvana.

As histórias que estão nos jornais todos nós já conhecemos. Uma investigação mais profunda através das biografias publicadas por autores como Michael Azerrad, trazem alguma luz para esclarecer alguns fatos que ficaram omissos. Pouca gente sabe quem realmente era Kurt Cobain. Não dá pra definir sua personalidade somente como auto-destrutiva. Existiam várias outras nuances como a compaixão, o medo, a dor, o sofrimento e o silêncio.

 

A grande dicotomia da vida de Kurt foi procurar o sucesso e ao mesmo tempo negá-lo totalmente, como se fosse a pior coisa que poderia acontecer à um ser humano. Ainda assim, desde sua adolescência, Kurt queria e focava todos os seus recursos para que sua banda e bando, o Nirvana, fosse conhecido e reconhecido pela música e pensamento contra-cultural. É uma pergunta engraçada que podemos nos fazer: como divulgar para muitas pessoas que a sociedade não se importa com ninguém? O problema é exatamente, utilizar todas as armas da sociedade, suas gravadoras, suas vendas, seus shows, suas entrevistas, para dizer que está tudo errado.

Se Kurt Cobain fosse forte o suficiente em suas afirmações, conseguiria ficar imune à sujeira de onde se meteu, e provavelmente estaria vivo até hoje. Não só para não ter se matado (ou quem sabe ser assassinado), mas para seguir sua caminhada revolucionária. Ele acabou sucumbindo ao meio intoxicante em que viveu para passar sua mensagem. É como se alguém cruzasse um rio de lodo para dizer aos habitantes da outra margem que não importa o que aconteça, nunca iremos nos sujar. Só que Kurt quando olhou para si mesmo, e viu a sujeira, duvidou de quem era e de seus propósitos, e não aguentou essa visão. Não há nada mais difícil do que nos confrontarmos com nossas verdades, e verificar se elas continuam reais ou não.

Não era o caso de que Kurt estava errado ou obcecado. Mas tudo o que ele acreditava e lutava era exatamente o oposto do que ele vivia. Como Cazuza disse, a ideologia que Kurt seguia não servia mais para viver. É claro que as drogas e toda a nuvem que se criou em volta de sua pessoa, afetaram de maneira fatal seu estado de espírito. Entretanto, não acredito que as drogas eram a causa de seu estado, e sim consequência de sua desilusão e fragilidade.

A vida está sempre nos colocando cara a cara com nossas verdades e nossos medos. Por isso que não é fácil viver, requer muita força, para seguir em frente; coragem, para acreditar em si mesmo; humildade, para reconhecer que não somos donos da Verdade e nem a vivenciamos plenamente. Quando estamos conectados com algo que nos acalma e tranquiliza seja o que for que aconteça em nossas vidas, essa guerra fica mais amena. Mas essa amenidade é proporcional ao quanto nos identificamos com o mundo externo. Se achamos que o que está fora e ao nosso redor representa nossos principais ideais, então vamos realmente sofrer.

Sempre que leio a palavra Nirvana, me vem a banda e também o significado esotérico e interno dessa palavra. Kurt Cobain não usou o nome Nirvana para sua banda ao acaso. Ele não era budista ou pretensioso, mas Nirvana representava sua luta, sua guerra perante uma sociedade conformista, opressora e esmagadora. O Nirvana, claro, era e é a libertação das almas e das amarras de nossa própria ignorância, bem como de todos que nos cercam e vivem seus dramas. Fez 15 anos que a música não adentrou mais no seu estado mais sagrado, o Nirvana.